3 de agosto de 2014

DIA DOS PAIS

No próximo domingo, dia 10, estará sendo comemorado o dia dos pais. Portanto daqui a uma semana.

Não tenho a presença física do meu há 51 anos. Que seu espírito esteja seguindo seu caminho, com muita luz.

Mas sou pai e aguardo, pelo menos, o abraço dos dois filhos. Tudo bem, é jogada comercial, mas no fundo acabamos por considerar uma data especial para cumprimentos e abraços. Seria hipócrita se dissesse que não ligo.

Em homenagem aos pais já foram produzidas lindas e inesquecíveis crônicas, saídas das penas de grandes escritores, e belos poemas da lavra de poetas renomados.


Lanço aqui e agora um concurso: os autores dos melhores comentários neste post, reverenciando os respectivos pais, serão premiados com uma assinatura do blog (por um mês - rs), e, ainda, os selecionados serão publicados no dia 10 numa homenagem coletiva e pública.

4 comentários:

Riva disse...

Meu pai, Fred, foi um daqueles seres de LUZ que passam por aqui entre nós de vez em quando.

Devido à precoce doença de nossa mãe (ficou cega), ele passou a se dedicar a dar qualidade de vida a ela, e por isso nosso convívio infelizmente não foi pleno em todas as situações da minha infância e adolescência. Ele lia livros e mais livros diariamente para ela, ia ao cinema com ela, fazia compras com ela, uma dedicação impressionante.

E por tudo isso, abrindo mão da sua carreira profissional, de uma vida social normal, impossibilitado até de curtir plenamente seus netos(as), quando nasceram.

Mesmo assim, encontrava tempo para me ensinar Matemática, e “tomar” minhas lições de Geografia, História e Ciências. Essas matérias primavam pela necessidade de memorização de datas e outras informações – a famosa decoreba. E ele me ensinou um método para isso, e me cobrava, me treinava. Até hoje, sexagenário, sei várias coisas decoradas : as preposições, afluentes das margens erquerda e direita dos principais rios do Brasil, capitais de dezenas de países, etc. Bem, a taboada foi a 1ª árdua missão !! rsrsrs.

Nunca levantou a voz para mim, em situação nenhuma. Nos momentos mais “críticos”, falou pouco para mim, mas com imensa sabedoria. Mas só percebi tudo isso, ou seja, o que ele era e o que representava, bem mais tarde.

Devido a todo esse cenário, fui criado por minha avó materna, que morava conosco, e como eu era “levado da breca”, minha mãe mesmo cega, brigava muito comigo. Não nos entendíamos muito bem. Até nisso meu pai intercedeu positivamente, mas depois de falecido. Sim, com sua morte, minha mãe se aproximou muito de mim, eu já com 30 anos de idade. Conversamos muito, tudo o que não conversamos durante todos os anos anteriores.

Vou deixar aqui pra vocês (não foi escrito por mim) o que resume bem o significado do meu pai para mim. Tudo ficou muito nítido para mim, infelizmente depois que ele se foi, prematuramente, aos 63 anos. Artur da Távola escreveu isso para o jornal O GLOBO, logo depois da morte dele ...

A perda do pai: quem sabe vivenciá-la? Como aceitar mortal e falível aquela pessoa grande, capaz de conseguir o universo, logo ele, o provedor, abridor de caminhos pelos quais começamos a passar medrosos?
A perda do pai é a retirada da rede protetora no momento do salto. E há que saltar. É o roubo feito no exato momento em que estávamos a descobrir o melhor do mundo.
A perda do pai é a entrada no lugar-comum, é começar a ser igual a todos os que a sofrem, a ter os mesmos medos, as mesmas frases. É voltar a se emocionar com o que se desprezava: datas, pequenas lembranças, objetos, palavras e até com as manias dele que nos irritavam.
A perda do pai é o começo do balanço da própria vida, porque, enquanto vivia, era mais fácil nele descarregar alguns fracassos e culpas.
A perda do pai é o início da significação. As palavras começam a fazer um estranho e novo sentido.
A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo: o que não fizemos, a visita deixada para depois, o gosto adiado, a advertência desdenhada, o convite abandonado sem resposta, o interesse desinteressado...tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo. Nosso primeiro exame de consciência verdadeiro começa quando o pai morre. Nosso encontro com a morte inaugura-se com a dele. Nossa primeira noite sem proteção consciente, dá-se quando ele já não está. E nunca somos mais sós que na primeira noite em que já não o temos. O pai é o mistério enquanto vida e a revelação depois de morto. Num segundo, entendemos tudo o que, durante a vida, nele nos parecia uma gruta de mistérios. Seus objetos ganham vida, suas comidas preferidas passam a ter mais gosto, suas frases adquirem o sentido que só o tempo e a repetição outorgam às coisas.
A perda do pai dói muito! Isso é tudo. Para que querer saber por quê? O pai é o eu no outro. É dois em um, santíssima dualidade a proclamar o mistério e a glória de existir, dívida que com ele temos, sem nunca conseguir pagar, o que o faz por isso mesmo, sempre, muito melhor do que nós...

Jorge Carrano disse...

Este texto do Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, mais conhecido por Artur da Távola, sobre a importância de um pai, é um dos mais sensíveis e emocionantes de quantos tive oportunidade de ler.
A parte do comentário que é inspiração sua, caro Riva, por si só qualificaria o seu como sério candidato ao prêmio, mas acrescido da crônica do Artur da Távola fica praticamente imbatível.
Parabéns!

Jorge Carrano disse...

Não sei quem é João Cavalcanti, ou por outra, até sei que é um cantor e compositor, como apresentado ao pé da crônica que o mesmo escreveu em revista encartada no jornal de domingo passado.Ele escreveu sob o titulo "Pai é outro lance", relatando um pouco de sua experiência pessoal, a partir do nascimento dos filhos.
Destaco um trecho: "Não propago nem projeto quase nada: é difícil, mas estou tentando largar minhas pequenas-verdades-de-manual. Não tenho tempo a perder empunhando arquétipos e bravateando o que idealizo de mim mesmo. Só quero ter energia para errar e acertar todos os dias até, quem sabe, ser,querer ser,merecer ser pai. Que é outro lance."

Digo eu, em reflexão, que sei agora que foi uma temeridade ser pai aos 25 anos de idade, imaturo emocionalmente, pobre e tendo recebido de meu pai uma educação severa e rígida, que me serviu de espelho.
Espero ter sido perdoado por meus filhos de meus muitos erros e que se lembrem e valorizem meus acertos, creditando-me um saldo positivo.

Jorge Carrano disse...

Riva,
Domingo, às 12 horas, seu comentário será transformado no post em homenagem aos pais.
Abraço