16 de agosto de 2017

XONGAS

Esta gíria esteve em voga durante muitos anos. Acho-a  uma palavra perfeita, significando coisa alguma ... mesmo.

Assim como indeed, no inglês, é uma palavra que serve para dar ênfase, para confirmar uma frase, xongas dá a exata medida de nossa afirmativa.

Ou como substituto do not at all que é utilizado para enfatizar resposta negativa. Quer café? No thanks ... not at all. Não quero mesmo, não é cerimônia não.

Xongas, pura e simplesmente, significa nada mesmo.

Por exemplo: o que sei de física quântica?  Não sei xongas. Pronto! Não sei mesmo coisa alguma.

Não tinha xongas para escrever, um vazio intelectual combinado com uma preguiça abissal.

Aí, folheando uma revista, detive-me numa crônica onde li a palavra perrengue, que apesar de ser vernáculo (vem do espanhol perrengue), tem aqui no Rio de Janeiro o sentido popular (giria) de aperto, situação difícil.

Então, no popular, diria que estava num perrengue pois não tinha xongas para escrever a guisa de post.

Meu pai não admitia o uso de gírias em casa, achava vulgar. Na mesma linha não aceitava leitura de gibis, que considerava uma coisa menor. Qualquer coisa em quadrinhos significava não ter que imaginar, raciocinar, ou seja, não obrigava a exercitar a mente.

Assim, em nosso ambiente familiar, no linguajar cotidiano gírias eram toleráveis, mas reprováveis; e o palavrões, as chamadas palavras obscenas, proibidas.

Mas a tese de meu pai não é vitoriosa, eis que a meninada desde a  tenra idade se acostuma com os desenhos animados japoneses, com as historinhas e personagens do Maurício de Souza e nem por isso deixam de desenvolver raciocínio lógico e bem articulado.

Aqui entre nós, ficar privado de falar ou escrever fuzuê, traquitana, breguete, e outras gírias, não tem nada a ver. Mesmo que importe criação de um dialeto. Médicos e advogados têm seus próprios dialetos. Ninguém, para um médico, tem dor de cabeça, tem cefaleia. Assim como não existe viúva para advogado, e sim cônjuge supérstite.

Assim é também com algumas expressões idiomáticas, como "chuchu beleza", atualmente pouco usada. Agora seu sucedâneo é uma palavra: "irado". Está na moda o “deu ruim!” É ruim, hein!? Digo de aceitar.

Roberto Carlos, o cantor/compositor, consagrou o "é uma brasa mora?" Que agora soa cafona, antiquado, rançoso.















Os palavrões são vizinhos de muro das gírias, e também eles têm seu lugar e hora adequados nas conversas coloquiais. Tem um que, assim como xongas, é definitivo.

Recorro ao reverenciado Millôr para tornar publicável, sem risco de ferir os olhos das senhoras de pruridos (no sentido figurado) mais agudos.

A tese dele, a seguir, é inquestionável. Só que a autoria não é confirmada, não havendo sequer uma fonte fidedigna de que alguma vez, em algum veículo, o Millôr Viola Fernandes o tenha publicado.

Mas se caiu na rede é peixe. Lembram?




Era o que deveria dizer (ou pensar), ao constatar que não tinha sobre o que escrever. Poderia usar o dane-se. Mas faltaria contundência.

Tergiversei e cheguei até aqui contando com sua leitura. Na verdade dando uma de migué. Morou?


Nota do autor: A internet é rica em textos apócrifos. O que chama atenção é que muitos deles são bem escritos e bem ao estilo daqueles cuja autoria lhes é atribuída. Millôr Fernandes e  Luis Fernando Verissimo, são dois dos consagrados autores vítimas deste embuste. 

Vrissimo
Millôr










 



Referências:
1)http://eltonvaletavares.blogspot.com.br/2012/03/o-direito-ao-foda-se-millor-fernandes.html

2) http://rosemerynunescardoso.blogspot.com.br/2013/11/o-direito-ao-foda-se.html

6 comentários:

Jorge Carrano disse...

O confrade e virtual amigo Paulo Bouhid, em e-mail, comenta o post e envia texto atribuído ao Luiz Fernando Veríssimo, abordando o uso do palavrão.

No Google, buscando pelo título "O Direito ao Palavrão" (Luiz Fernando Verissímo), encontrarão a crônica mencionada.

Entretanto como registrei no post, Millôr, Veríssimo e Jabor, são muito utilizados por anônimos que escrevem e publicam, principalmente na rede, textos como se fossem destes consagrados cronistas.

Diga-se, a bem da verdade, que em geral são bons textos. Até conseguem enganar os mais desatentos e os que não se dão ao trabalho de certificar a autoria buscando na internet.

Riva disse...

Como tudo mudou em 25 anos !! Lembro, e já comentei aqui, que o grupo paulista do Marcelo Nova não tocou no Chacrinha por causa do nome da banda - Camisa de Vênus.

Porra era palavrão, só pronunciado por rapazes, e tantas outras coisas.

Hoje, na GROBO, em programas ao vivo, ouve-se porra, foda, merda, sacanagem (era palavrão também).

Mulheres em qualquer lugar, conversando, falam "caralho" a todo momento ...sim, porque "caralho" não é mais "caralho". "Caralho" agora é sinônimo Uau !! , de Porra !!!, de Puta Merda !! ...."caralho" não é um pênis, é uma exclamação.

O cara é "pica das galáxias" !! Pica também não é um pênis, é o cara "fodão", bom demais no que faz.

E por aí vai .... FLUi

Jorge Carrano disse...

Como tudo mudou em um ano, Riva

Até o ano passado seu comentário seria reputado impublicável. Em nome da moral e dos costumes.

Se me não falha a atribulada memória, você teve um comentário censurado por causa de um palavrãozinho de nada. Coisa pouca. Não coraria o anjo barroco da igreja.

O tempora! O mores!

Riva disse...

kkkkkkkkkk 100% dentro do contexto !!
Novos tempos !

Riva disse...

Hmmmm, sumiu quase todo mundo ..... Pub da Berê deve fazer alguma promoção para atrair os clientes de volta e cooptar novos também .... rsrs

Jorge Carrano disse...

O Pub da Berê está perdendo para a novela das 21 horas. Isto é o fundo do poço.

Precisamos pensar em algo.