2 de agosto de 2011

Melhor seria se não tivesse nascido

Ou,  como diziam os romanos:  Bonum erat si non natus non fuisset homo ille.

Certamente não viverei para ver aprovada e implantada, no país, a pena capital. Uma pena. Há anos defendo (onde possível)  a tese de que a pena de morte é essencial numa civilização adiantada.

A pena de morte depura a sociedade, tirando do nosso convívio seres pervertidos; é como tirar da cesta as laranjas podres que contaminarão as demais e, mais importante, não servem para nada, senão comida para porcos.

Numa sociedade civilizada, na acepção da palavra, a boa-fé e a honestidade não poderiam ser conceituadas como virtudes. Deveriam ser inerentes ao ser humano, qualidades intrínsecas. Deveriam fazer parte da natureza, tal como ferroar é da natureza do escorpião, mesmo que isto custe para ele, como na parábola da travessia do rio nas costas do jacaré, perder a vida.

Observem o absurdo. Quando livre, antes de ser sentenciado, o indivíduo (homem ou mulher) foi mal comportado, agiu de forma antissocial. Tanto que foi penalizado. Quando cumprindo a pena que lhe foi imposta, é premiado com progressão de regime, liberdade condicional e outras benesses sem cabimento. Desde quando ser comportado, o que é um dever, principalmente quando está cumprindo uma pena, faz do indivíduo merecedor de prêmio?

E o regime de premiação por bom comportamento revelou-se falido, inócuo, ineficaz. Não tenho estatísticas, mas um enorme número de sentenciados colocados em liberdade condicional ou premiados com progressão de regime, passando a semiaberto, voltam a delinquir. Assim como os evadidos dos presídios. Quem tem notícia de um prisioneiro foragido que tenha aproveitado a liberdade para se regenerar? Que tenha mudado de vida.

Já que abordo este aspecto, aproveito para provocar aqueles que acreditam no carater pedagógico da pena. Se um dos fatores que justificam a aplicação de medidas punitivas, como o cumprimento de pena restritiva de liberdade, é a recuperação do infrator para o convívio social, então 99% dos sentenciados teriam fundamentos para processar o estado que falha no seu papel de recuperá-los para a sociedade. O estado teria que pagar muitas indenizações, pois na prática os que são realmente marginais não se recuperam. Antes pelo contrário, se aperfeiçoam para o mal no regime carcerário. É como se fizessem uma pós-graduação.

A sociedade civilizada não transige com o certos crimes. Onde já se viu matar os pais, à pauladas, enquanto estes dormiam? E por causa de bens materiais. A sociedade onde isto ocorre não é civilizada, se tolera a prática. Nos desvios de conduta extremados, a solução é extirpar como se faz com o câncer.

Numa sociedade bem desenvolvida, não há lugar apenas para sentimentos, há que reservar um bom espaço para a razão.

E a razão não pode aceitar que um pai que joga a filha pela janela tenha direito ao convívio social depois de alguns poucos anos porque calhordamente será bem comportado no presídio. São comportados no presídio, da mesma forma que você, alertado sobre a existência de um radar ou de posto da Polícia Rodoviária alguns metros a sua frente, diminui a velocidade com que transitava na estrada. Ou seja, você é infrator, só não quer ser apanhado em flagrante.

Outra falácia é a de que muitos inocentes poderiam ser sacrificados, dado as falhas do processo penal. Nos USA morrem muito mais pessoas por erros médicos do que pela execução de sentenças capitais. Não há como comparar com o Brasil, seja porque não temos pena de morte, seja porque quanto a comprovação de erros médicos é quase impossível caracterizá-los em função do forte espírito corporativo. Em juízo, um médico não depõe nem testemunha contra outro em caso de erro profissional.

Mas todo mundo conhece casos de erros de diagnóstico ou terapias equivocadas que resultaram em óbito. E nem por isso a medicina é excluída da sociedade ou inaceitável.

Já escrevi e discuti tanto sobre o tema, sem resultados objetivos, que deveria desistir. Mas não desistirei. O único fato que poderia mudar meu pensamento seria a adoção da prisão perpétua, mesmo. Sem anistia ou perdão. Mas isto custaria muito à sociedade, sem qualquer retorno. A menos que as famílias arcassem com os custos.

Não preciso acentuar que me refiro aos crimes hediondos, assim considerados aqueles que resultam em morte: sequestro, estupro e roubo seguidos de morte da vitima;  homicídio praticado contra cônjuge, pais ou filhos.

Encerro com a seguinte pergunta: você acha que os Nardoni, as Suzanna Richintoff  e os Pimenta Neves merecem viver ? Eu acho que deveriam ser condenados a morte, com passaporte com visto de entrada no inferno.

E antes que me perguntem porque não vou viver na China, já me antecipo dizendo  que não vou porque não falo mandarim e não gosto de cerne de cachorro. Bem, parece que sociedade perfeita mesmo não existe.



10 comentários:

Gusmão disse...

Se fizerem um plebiscito, como fizeram sobre desarmamento, a maioria da população votará pela pena de morte.
Só que, na hora da execução, ficariam com peninha e viriam apelos pela comutação da pena. O brasileiro é muito emotivo e sentimental.
Irá aparecer, logo,logo, uma ONG para defender os interesses dos sentanciados a morte.
Nâo é não?
Gusmão

Jorge Carrano disse...

É sim, Gusmão. Tem razão.
Nâo vou ponderar, poque mal acabei de acordar e já encontro seu comentário crítico/irônico.
Bom dia e obrigado por opinar.
Abraço

Jorge Carrano disse...

Caro Gusmão,
Só para comoplementar, já com o estomago forrado com o café matinal, digo que não lembro de nenhum amigo que compartilhe minha opinião sobre pena de morte. Pelo menos de forma explicita.
Lembro do ex-deputado Amaral Neto, falecido, única voz no Congresso Nacional a defender a tese e propor a emenda na Constituição.
O fato de ter parceiros que comunguem de minha opinião, não altera minha convicção.
Esqueci de dizer que muitas pessoas dizem que se a apena de morte fosse exemplo inibidor não haveria mais crimes nos EUA. Mas se você tira de circulação, do convívio social, os assassinos frios, cruéis e covardes, a probabilidade de redução de crimes de morte é incontestável.
A pena não é exemplo, é punição.
Abraço

Jorge Carrano disse...

Errata:
No comentário acima, ao invés de o fato de ter parceiros que comunguem..., leia-se, o fato de tar parceiros que NÃO comunguem....
Leia-se pena e não apena.
Perdão

Anônimo disse...

"Não concordo com uma palavra o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las" ... Voltaire fala por mim.

Ana Maria disse...

Ah! Acabei esquecendo de assinar meu comentário acima rs.
Aproveito pra lamentar por vc...Logo o Amaral Neto...

Jorge Carrano disse...

Pois é, Ana Maria, ele era chamado, no meu ciclo no Departamento Jurídico da Fiat Lux, de Amoral Nato, você sabia?
Bem, as viagens dele pelo país eram interessantes e na defesa da pena de morte, segundo minha opinião estava certo.
Beijo

Carlos Frederico disse...

Sou contra a pena de morte.
Sou a favor da prisão perpétua.

Pode ser uma argumentação cretina, mas casos há em que a pena de morte terá sido aplicada erroneamente, e o sujeito já está enterrado...

Mantê-lo preso até sua morte natural (apesar de gastarmos com sua manutenção) nos daria a chance de, se porventura casualmente quem sabe um dia acontecer de alguém descobrir o erro, poderia ser desfeito...

E, por favor, poupe-me de me lembrar do corporativismo da classe médica. Indecente!

Abraço
Carlos

Jorge Carrano disse...

Prezado Carlos Frederico,
Nâo pretendo polemizar porque respeito sua opinião. Todavia, permito-me reforçar o que disse no post.
Morrem muito mais pessoas em decorrência de erros médicos do que em cumprimento de sentenças judiciais. Falo dos EUA.
No processo judicial, existem instâncias e possibilidade de recursos que permitem correção de erros.
Já na cirurgia mal executada ou no diagnóstico errado, em raríssimas vezes o doente tem a chance de uma segunda opinião para corrigir o erro. E depois que fez o óbito, babau.
Valeu a participação, obrigado.
Abraço

Gusmão disse...

E no caso do erro médico, em prinípio as vitimas são inocentes mesmo.
Gusmão